Ossanha,
Ossain, Òsanyìn, Ossãe
O
orixá das ervas e da saúde
Ossanha
Da
África para o Brasil
"Esta explanação é sobre a visão de quem é o Orixá Ossanha como é chamado no Batuque do RS na própria África, sem as influências da cultura brasileira, católica, indígena no seu ritual"
Ossanha
na áfrica é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas, sendo ele muito
importante para tudo que for feito dentro da religião, até mesmo porque nada se
faz dentro da religião sem a presença dele e de suas ervas, pois ele detém o
axé, importante para todos os deuses. O nome de todas as plantas, a sua
utilização e a forma de ativar seus poderes, pertence à Ossanha, que anda
sempre portando um cetro de ferro, tendo na parte de cima um pássaro de ferro,
e seis outras pontas apontando para o alto.
É
filho de Nanã Burukun, tendo ele sido gerado diretamente de matéria, pois Nanã
gera em si mesma, sendo ela Assexuada na região do Irão, atual Nigéria, perto
da fronteira do ex-Daomé onde é praticado o culto de Ossanha.
A
colheita das ervas de Ossanha deve ser feita com extremo cuidado, pois deve ser
feita pedindo sempre licença e saudando Ossanha, e depois agradecendo por ele
partilhar as folhas conosco, melhor ainda se as ervas forem colhidas em locais
selvagem onde Ossanha vive junto com Òsanyìn Àrònì, um Ossanha anão que possui
uma única perna que passa o dia fumando um cachimbo feito de casca de caracol
com suas ervas favoritas junto do fumo,
Na
áfrica o culto a Ossanha é praticado pelos Olóòsanyìn, adeptos de Ossanha que
praticam a arte do curandeirismo pelo processo de conhecimento das plantas a
qual são submetidos, até em respeito à Ossanha nunca colhem ervas se estiverem
com o corpo impuro, sendo tudo feito em absoluto silencio levando dinheiro
corrente ao local onde serão colhidas as ervas, para pagar Ossanha pela
colheita. Os Olóòsanyìn não entram em transe, apenas tem conhecimento das
ervas, eles julgam que Ossanha não é passível de transe, sendo que no Brasil
segundo os nigerianos a possessão se dá pelo Vodun Agué e não por Ossanha como
dizem os brasileiros, porem aqui existe muitas discordâncias desta afirmação.
Vale lembrar ainda que em áfrica Ossanha possui as duas pernas e o Àrònì possui
apenas uma, enquanto no Brasil toda qualidade de Ossanha foi associada como
tendo uma única perna.
O
culto de Ossanha na África esta estreitamente ligado ao culto de Orunmilá,
senhor da adivinhação, pois quando Orunmilá veio ao mundo pediu que um escravo
lavra-se seus campos, o escravo escolhido foi Ossanha, que quando foi começar o
trabalho começou a se negar a cortar certas ervas, dizia esta não vou cortar,
pois alivia inflamações, esta não vou cortar, pois elimina infecção, esta cura
dores de cabeça e assim foi durante todo o dia. Orunmilá se interessou pelo
conhecimento do escravo, demonstrando desejo de conhecer estas ervas milagrosas,
decidindo que Ossanha ficaria ao lado dele durante suas adivinhações indicando
as ervas que os consulentes deveriam tomar para serem curados de certas
enfermidades.
Mas
nem tudo foi alegria, logo houve desavença entre os dois e a briga começou quem
era mais importante o adivinho e suas oferendas ou Ossanha e seus remédios,
então houve a disputa entre os dois.
Os
filhos de Orunmilá chamava-se oferenda e o de Ossanha remédio, o rei de Ajalaiê
resolveu fazer o desafio e descobrir quem era mais importante, iria enterrar
o0s dois vivos por sete dias e quem saísse vivo ao termino do desafio seria
mais importante. Orunmilá consultou seu oráculo para ver como agir diante deste
desafio, e os Odus lhe mandaram oferecer comida e sacrifícios de coelho e galos
a Esú para vencer a contenda, após todas as oferendas feitas, Esú ressuscitou o
coelho e ele cavou um buraco e levava as comidas até oferenda, mantendo ele
vivo. Remédio filho de Ossanha usou de sua magia para chegar até Oferenda e lhe
pediu comida, mas oferenda negou a dar-lhe qualquer alimento, pois o pai
dependia dele, assim remédio se submeteu a ele e lhe disse que quando o desafio
terminasse ele não responderia ao chamado de seu pai e permitiria a vitoria de
Orunmilá, oferenda aceitou e lhe deu alimento, assim ao fim dos sete dias
Orunmilá saiu vencedor, pois foi seu filho que respondeu o chamado do rei de
Ajalaiê. Deste dia em diante o poder dos Babalaôs foi considerado mais
importante que o dos curandeiros, pois sem o poder da palavra as ervas nunca
surtiriam o efeito desejado.
Esta
briga entre os dois não terminou tão fácil assim, pois Ossanha nunca aceitou a
derrota, viveu então uma guerra não declarada com Orunmilá, procurando sempre
enganar e atrapalhar a vida de Orunmilá. Orunmilá cansou de estar sempre dando
um passo para frente e dois para trás e foi falar com Xangô, pediu a ele que
queria justiça, queria descobrir que era seu inimigo oculto. Xangô pediu uma
oferenda de doze algodoes em chamas e doze Edum Arás, assim ele desvendaria
toda a injustiça, e assim o fez Orunmilá, ele invocou o poder do fogo, neste
dia Ossanha andava pela floresta buscando ervas, para enfeitiçar Orunmilá,
quando um forte raio caiu sobre ele, por ser um Orixá não veio a morrer porem
teve sua perna mutilada pelas forças de Xangô. Assim Orunmilá descobriu quem
era seu inimigo oculto, que há tempos o atrapalhava em seu caminho de adivinho.
Depois
desta desavença muito tempo ainda se passou, e um dia foi organizada uma grande
festa em homenagem a Orunmilá, Ossanha estava em casa muito triste por tudo que
ocorrera, estava pobre e com pouco alimento, quando passou Xangô em sua porta e
perguntou a ele o motivo de tanta tristeza, e Ossanha respondeu que era o fato
de não poder ir à festa de Orunmilá devido ao que fizera no passado, alem disso
sua plantação só tinha dado inhame e aboboras, e os inhames que eram o que
Orunmilá comia havia dado muito pouco, seria insuficiente para se redimir
diante Orunmilá.
Xangô
ouviu tudo e disse a Ossanha que nada disso tinha importância, e que Ossanha
deveria ir, mas diante a recusa de Ossanha, Xangô se propôs levar as oferendas
até Orunmilá, e assim o fez. Chegando ao palácio de Orunmilá ele colocou os
inhames de Ossanha junto com os seus e disse a Ossanha que estes inhames eram
todos dele, de Xangô como presente para Orunmilá e que as aboboras eram um
presente de Ossanha para Orunmilá, na mesma hora Orunmilá disse que recusava o
presente de Ossanha e que Xangô deveria devolver as aboboras a Ossanha
imediatamente.
Ossanha
ficou muito triste com a devolução de suas aboboras, e deste dia em diante ele
começou passar muita necessidade, sem ter o que comer decidiu que não haveria
outro jeito a não ser comer as abóboras que já estavam apodrecendo, depois de
tanto tempo, e assim Ossanha abriu a primeira e viu que no lugar das sementes havia
muito dinheiro, e assim foi abrindo uma a uma e todas tinham dinheiro dentro,
assim Ossanha que era pobre passou a ser muito rico e respeitado e voltou a ser
um grande amigo de Orunmilá.
Algo
muito conhecido e lembrado na áfrica e no Brasil é sobre o pássaro ser a
representação do poder de Ossanha, sendo este pássaro seu mensageiro que anda
por toda a parte e volta para ficar sobre a cabeça de Ossanha para lhe contar
tudo que viu, esta historia começa no dia em que um rei prometeu sua filha mais
velha, conhecida como Osun Ademun em casamento há quem soubesse o nome de suas
três filhas, Ossanha que estava muito interessado em sua filha aceitou o
desfio. Assim foi ele sorrateiro atrás do palácio onde se escondeu em uma
arvore e ali esperou as três princesas saírem para o pátio.
Ali
ele imitou o pássaro ate elas irem ate a arvore onde ele soltou seu pássaro e
as meninas brincaram sem parar com o pássaro sem saber que era o pássaro de
Ossanha, assim Ossanha ouviu o nome das três princesas e no dia seguinte foi
ate o rei e lhe disse o nome de suas três filhas e ele lhe deu a filha mais
velha Ademun em casamento, sua esperteza dera certo e desde então ele é
identificado com o pássaro.
Ainda
Ossanha era dono de todas as folhas, poder que havia recebido do próprio
Olodumaré, ele não repartia com ninguém o segredo das folhas, mas um dia Xangô
pediu a Oyá que descobrisse o segredo de todas as folhas, pois os orixás não
tinham nenhuma erva ou folha para si, assim Oyá foi até Ossanha e levantou sua
saia, deixando Ossanha hipnotizado pela suas partes, enquanto os dois praticam
o ato sexual, Oyá foi pedindo a finalidade de cada folha e Ossanha enamorado
foi ensinando, até que na hora do orgasmo Oyá soprou muito forte e a cabaça das
folhas que estava pendurada em uma arvore voou longe e quebrou ao bater no
chão, Ossanha saiu correndo gritando “Ewé O, Ewé O, que significa em português
“minhas folhas, Oh as folhas”, mas não conseguiu impedir que cada orixá tomasse
para si uma folha e suas propriedades magisticas.
Como
dito anteriormente Ossanha é originário da região do Irão, na Nigéria, não
fazendo parte do panteão Jêjê, sendo Ossanha um deus originário da etnia
Yorubá, pois entre os Jêjês havia um deus responsável pelas folhas que levava o
nome de Ágüe, por isso Ossanha dança o bravum e o Sato a exemplo dos antigos
deuses de Daomé. Ele teve poucos caos amorosos sendo apenas um de sedução por
Oyá e sua paixão por Ademun, no Brasil muito se fala sobre ele ter seduzido
Oxóssi e enamorado com ele, porem em áfrica este mito é totalmente desconhecido
e inexistente.
Voltando
atrás na visão nigeriana os brasileiros filhos de Ossanha recebem na possessão
o Vodun ágüe e não o orixá Ossanha, mas quem é ágüe?
Considerado
por muitos uma encarnação de Ossanha, Ágüe é o Vodun da caça e das florestas,
tendo seu assentamento identificado com Igbá ágüe, onde na mitologia fon e Ewe
ele teria só uma perna, e nas vezes na mitologia fon identificado como tendo
apenas um braço, uma perna e um só olho, foi ele quem ensinou os homens os
segredos das plantas e das artes, sendo o chefe de todos os azizas (espíritos
da floresta, os elfos e gnomos), ele encarna em si, a inteligência e a
sensibilidade dos homens em adaptar-se a natureza, sendo ele muito semelhante à
Ossanha.
Este
Vodun foi muito importante dentro da cultura Jêjê, é tido como filho de Mawu, a
mesma que Nanã na região fon da áfrica, é importante, pois é um Vodun da família
de Sapaktá, sendo responsável pelo poder das plantas, folhas, vegetais, da
medicina e da cura. Estando ligado também à caça e a fartura, sendo ele quem
mata a fome de seu povo e traz os alimentos sendo muito semelhante aos Odés. Ágüe aprendeu com Mawu os segredos de Ikú, por
isso também é relacionado aos eguns e esta relacionado com os ancestrais e com
a morte.
As
cores de ágüe na áfrica são o verde e amarelo, ou verde e branco podendo ainda
usar o vermelho, sendo seu dia a quinta-feira e a segunda-feira, logo Ágüe em
nossa concepção é o próprio Ossanha, sendo a mesma divindade, porem Ossanha
rodava inúmeras regiões africanas, tendo um nome em cada dialeto das terras por
onde Passava.
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