Orixás Odé e Otim
Os caçadores da África
Odé
Da África para o Brasil
"Esta explanação é sobre a visão de quem é o Orixá Odé como é chamado no Batuque do RS na própria África, sem as influências da cultura brasileira, católica, indígena no seu ritual"
Na
áfrica toda região possui seu Odé (caçador) particular, sendo este Odé o
responsável por garantir a prosperidade, representando a habilidade do homem de
caçar e coletar os alimentos para seu povo protege quem precisa caçar, pois a
floresta é um local de perigos, com animais selvagens e perigos sobrenaturais,
onde na áfrica moram os eguns, por isso as matas são muito respeitadas pelos
Yorubás. Cada região possui seu Odé, como exemplos em Inixá têm Otin (a única
caçadora mulher na áfrica), em Ijexá temos Erinlé, em Ketu temos Oxóssi (mais
famoso caçador africano), em Ire temos Ogum (em áfrica ainda temos ele como
caçador, pois o guerreiro e o caçador caminham lado a lado) e em Ifé temos
Oluwere (primeiro caçador Yorubá, acompanhou Oduduwá em sua chegada até Ifé).
Neste
momento quando nos referirmos a Odé, interprete como caçadores, pois em áfrica
ele não é uma divindade única, sendo como Esú, que tem um em cada cidade. A
compreensão do termo Odé é principalmente masculina, mas também pode ser
entendido como uma figura feminina, representando o instinto de sobrevivência
dos homens, sendo quem traz o alimento para a mesa através de suas estratégias
de caça, dono das florestas, sendo elem responsável pela fartura e o consumo
consciente das riquezas alimentícias da natureza.
Na
áfrica Odé é o deus da caça e vive nas florestas junto com o espírito dos
antepassados, tendo a virtude de dominar os espíritos da floresta, seu
principal culto é através de Oxóssi em Ketu e Erinlé em Ilobu e Ijexá, sendo
ele quem caçava os elefantes, todos Odés carregavam o Ofá (arco e flecha), a
lança e o Iruquerê (um espanta moscas) usado pelos reis africanos, pendurado no
saiote. Está associado ao ar livre e aos elementos da natureza, sendo solitário
e individualista.
Vejamos
agora alguns resumos sobre os principais caçadores da áfrica.
Oxóssi,
Osowusì
O
caçador de uma flecha só
Com
certeza o mais conhecido caçador nigeriano nos dias de hoje, considerado filho
de Ogum Onira com Iyá Odé Apáòka e às vezes tido como irmão de Avagã em
território fon, onde o culto a Onira é inexistente.
Ele
é considerado o protetor dos caçadores, auxiliando os caçadores a terem uma boa
caçada e voltar para casa com uma quantidade considerável de alimentos. Alem de
viver muito tempo caçando em companhia de Ossanha com quem aprende o segredo
das ervas medicinais alem de ser o único que possuía armas em seu vilarejo,
onde era conhecido pelo nome de Osowusì o “Guarda Noturno”, fazendo sempre a
ronda de seu vilarejo durante a noite.
Oxossi
ficou conhecido na áfrica inteira após um famoso feito seu que correu por todos
os lugares rapidamente, quando Oduduwá celebrava a festa dos novos inhames com
seu palácio cheio, em meio à grande festividade um enorme pássaro voou em meio
ao salão da festa, era o pássaro das Iyámi òsòròngà, que elas utilizavam para
realizar seus trabalhos nefastos.
O desespero
tomou conta do local, chamou então Oxotogun, o caçador das vinte flechas de Ido,
Oxotogí, o caçador das quarenta flechas de Moré, Oxotadotá, o caçador das
cinqüenta flechas de Ilarê e também Oxotokanxoxô, o caçador de uma flecha só. Os
três primeiro fracassaram na tentativa de acertar o pássaro, Oxotokanxoxô era
filho único e sua mãe foi consultar um babalaô que recomendou que se fizesse
uma oferenda com uma galinha sacrificada pelo peito e dizendo “quero que o
peito do pássaro receba esta flecha”, no momento que Oxotokanxoxô lançou sua
única flecha, com o animal enfraquecido pelo encanto de sua mãe, a flecha o
atingiu profundamente, fazendo com que o pássaro caísse no chão sem vida, neste
momento todos exclamaram Osowusì (pronuncia Oxówsí), que significa “Oxó
(abreviatura de Oxotokanxoxô) é popular”, com o tempo este nome foi trazido
para o Brasil como Oxóssi.
Hoje na áfrica o
culto á Oxóssi encontra-se quase extinto, assim como no batuque do RS, embora
se mantenha muito vivo na Umbanda e no candomblé, o fato da extinção deste
culto na áfrica vem de quando Ketu foi saqueada e destruída pelo rei Daomé, e
todos os iniciados de Oxóssi foram escravizados e mandados ao Brasil.
Oreluere,
Oluwere
O
mais antigo caçador Yorubá
Foi um dos
dezesseis integrantes que formaram a comitiva de Oduduwá em sua chegada do
Egito na cidade de Ifé, o berço da civilização Yorubá, detinha o poder e a
sabedoria da caça ensinou os primeiros Yorubás a sua arte com o arco e flecha.
Foi um guerreiro destemido, um medico habilidoso e um guardião da moral, das
tradições e dos bons costumes das família. Todos que cometessem algum tabu eram
apresentados diante de Oluwere para pagar as penitencias impostas por ele.
Não existem
iniciados a ele em áfrica, ele apenas foi o patrono dos caçadores, pois o
segundo caçador foi divinizado, o segundo foi Ogum. Embora Oluwere não tenha
sido divinizado, nunca podemos esquecê-lo, pois ele foi chamado por todos os
caçadores da áfrica de caçador primordial, no Brasil existe pouco conhecimento
ou tradição oral sobre este caçador.
Erinlé,
Ibualamã
Seu templo
principal é em Ilobu onde é chamado de Ibualamã que significa “O poder de
Erinlé”, mas em Ijexá passa o rio Erinlé, sendo a mesma divindade com seu nome
pronunciado diferente de acordo com o dialeto. Em Ilobu o culto do rio e do
caçador de elefantes se misturou aonde esta divindade vinha em socorro de seus
habitantes, auxiliando na caça e na fartura, sendo seu local de culto onde haja
um rio muito profundo.
Erinlé possui
uma forte intuição de caçador, seu principal fator de culto, é para que as pessoas
atraiam para si agilidade, sorte nos negócios e dinheiro, aumentando a
estratégia energética das pessoas.
Logún
Edé, Lógunèdè
Tido como filho
de Erinlé com Oxum Epandá, é cultuado também em Ijexá, onde sabemos que ele
vive seis meses em terra e outros seis meses no rio, em seis meses caça e come
sua caça sendo um homem, nos outros come peixes sendo uma mulher, ele tem total
bipolaridade. Pois é filho de Erinlé com quem aprendeu a arte da caça, e de
Epandá de quem puxou a vaidade e a beleza.
Seu culto
estende-se até Edé no estado de Osun, protege os humildes e injustiçados,
também é cultuado para atrair sorte nos negócios e prosperidade financeira.
Otin,
Otim
A
princesa de Inixá
"Esta explanação é sobre a visão de quem é o Orixá Otim como é chamado no Batuque do RS na própria África, sem as influências da cultura brasileira, católica, indígena no seu ritual"
Otim tem muitos
pontos de vista diferentes em sua liturgia no Brasil, alguns a cultuam como
sendo filha de Erinlé e uma esposa de Odé, outros a cultuam como sendo a
imaginação de Odé manifestada. Esta segunda possui a lenda famosa, onde Odé
após ter se decepcionado amorosamente com Epandá e com Oyá, Odé entrou nas
matas e pediu tanto a Olodumaré a mulher perfeita para ele, o mesmo comovido
pela tristeza de Odé, concedeu a ele uma mulher que satisfizesse todas suas
vontades e tivesse as atitudes perfeitas diante ele, assim nasceu Otim, uma
imaginação de Odé, motivo pela qual não pega cabeça. Ainda temos alguns
Babalorixás que a cultuam como qualidade de Odé sendo ela uma dualidade de Odé,
que seria seis meses homem, chamado de Odé, seis meses mulher, chamada de Otim.
Mas a visão
Yorubá da deusa Otim na áfrica não condiz com estas visões, em áfrica Otim é a
princesa de Inixá, é a única divindade feminina que foi exilada entre os
caçadores.
Otim é filha de
Erinlé com Epandá, é uma caçadora que também traz a qualidade de guerreira e de
cuidar das plantações, em áfrica contam que ela sempre andava até o rio buscar
água para o pai, motivo que no Brasil ela é representada com um cântaro na
cabeça, foi exilada de suas terras por possuir anormalidades nos seios, alguns
falam que ela possuía três seios, enquanto outras regiões alegam que ela teria
ate quatro seios.
Tornou-se uma
grande caçadora, pois quando seu pai Erinlé era rei de Ilobu, realizava grandes
festividades para o povo, mas os caçadores não queriam mais caçar para as
festas, assim o grande banquete se aproximava e o alimento era pouco para todos
que viriam na festividade, foi quando Otim que há tempos treinava com seu arco
e flechas escondido, saiu para ajudar o pai, e voltou para o palácio com uma
grande quantidade de alimentos, sendo louvada por todo o povo, e sendo
divinizada pelo próprio Oxalá que se fazia presente no banquete, pois uma
mulher sozinha havia caçado mais que vinte homens juntos.
Sua chegada ao
Brasil foi junto com Odé que foi unificado sendo associada ao culto dele, não
se pode assentar um sem assentar o outro, porem Otim não pega cabeça de
ninguém, não pode ter filhos, pois para a nação Nagô Xalú ela é considerada uma
orixá imanifestável, pois nunca teve filhos e ela não aprecia contato com
muitas pessoas devido ao constrangimento que foi acometida em território Yorubá
devido seu defeito nos seios, motivo de ter se exilado nas matas virgens, onde
fica aguardando seu marido Odé voltar para a casa com a caça, pois ela não
gosta de caçar, prefere a agricultura, cuida das plantações e da terra, hoje
diferente de Odé ela porta uma lança e uma funda apenas para proteção pessoal,
deixando a caça apenas para Odé. Algumas outras nações dão cabeças para Otim,
porem alertados por antigos Babalorixás que alegam não ser apropriado, quando
Otim responde no Eledá de alguém se deve imediatamente oferendar á ela, e
entregar o filho para Odé, pois Otim leva o filho cedo, sendo que dificilmente um
filho de Otim realmente iniciado e feito no santo passa dos 40 anos.
Ela é tida como
a orixá que protege os animais, mas ao mesmo tempo ajuda os caçadores, pois ela
entende que a morte de um ser é necessária para a sobrevivência da raça humana,
porem não aprova a matança pura e simples, a morte de um animal deve apenas
ocorrer se for para servir de alimento ou em rituais para agradar aos deuses,
matar apenas por esporte ou maldade é algo totalmente revoltante para ela. Alem
de ser ela que cuida e garante a sobrevivência dos animais que podem ser
caçados, também auxilia na colheita dos alimentos.
Ainda temos uma
lenda muito famosa na áfrica sobre Otim que conta que ela é filha de Okê, o
deus da montanha, e escondia que tinha nascido com quatro seios, o rei Okê
adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação. Este
era um segredo de Okê e sua filha. Quando Otim cresceu, o rei aconselho-a a
nunca se casar, pois um marido, por mais que a amasse, um dia se aborreceria
com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo. Otim ficou muito triste,
mas acatou o conselho do pai. Por muitos anos, Otim viveu em Igbajô, uma cidade
vizinha, onde trabalhava no mercado.
Um dia, um
caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Otim, que
insistiu em casar-se com ela. Otim recusou seu pedido por diversas vezes, mas,
diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca
deveria mencionar seus quatro seios a ninguém. O caçador concordou, e impôs
também sua condição: Otim jamais deveria por mel de abelhas na comida dele, porque
isso era seu tabu, seu ewó (proibição), pois um dia ele teria entrado nas matas
com seu filho lhe ensinando a caçar, e sentaram embaixo de uma arvore para
descansar. Logo pousou um pássaro e Odé teria atirado acertando o pássaro e
também uma colméia de abelhas, que caíram sobre a cabeça de seu filho, que sem
defesa foi picado diversas vezes, Odé vendo o sofrimento do filho correu
acudi-lo, sendo também picado muitas vezes, conseguiram fugir, mas seu filho
estava desmaiado no chão com sua vida se esvaindo, vendo o sofrimento de Odé,
Xapanã desceu a terra e corou seu filho e depois curou Odé, que disse a Xapanã,
“senhor dos aflitos, ponho meu reino a seus pés e também toda minha caça, que
de hoje em diante sempre comeremos juntos”, (abrindo um adendo, sempre que
oferendamos Odé, antes devemos oferendar Xapanã, ou Odé não aceita a oferenda),
assim Odé e seu filho seguiram seus caminhos sobre o juramento de que nunca
mais iriam comer mel, pois faria com que se lembrassem de todo o sofrimento
pelo qual haviam passado.
E assim respeitando o ewó de Odé, por muitos
anos, Otim viveu feliz com o marido. Mas como era a esposa favorita, as outras
esposas sentiram-se muito enciumadas. Um dia, reuniram-se e tramaram contra
Otim. Era o dia de Otim cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho
amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador.
Quando Otin
deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na
comida. Quando o caçador chegou a casa e sentou-se para comer, percebeu
imediatamente o sabor do ingrediente proibido. Furioso, bateu em Otim e lhe disse
as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios,
sua filha de uma vaca, como ousaste a quebrar meu tabu?” A novidade espalhou-se
pela cidade como fogo.
Otim, a mulher
de quatro seios, era ridicularizada por todos. Otim fugiu de casa e deixou a
cidade do marido Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai.
O velho rei a confortou, mas ele sabia que a noticia chegaria também a sua
cidade. Em desespero, Otim fugiu para a floresta. Ao correr, tropeçou e caiu.
Nesse momento, Otim transformou-se num rio, e o rio correu para o mar. Seu pai,
que a seguia, viu que havia perdido a filha.
Lá ia o rio
fugindo para o mar. Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado,
atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo
o caminho do rio Otim para o mar. Mas Otim contornou a montanha e seguiu seu
curso. Okê (Orixá), a montanha, e Otim, o rio, são cultuados até hoje em Otã.
Odé (Oxossi), o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.
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