sexta-feira, 31 de março de 2017


Orixás Odé e Otim
Os caçadores da África
Odé
Da África para o Brasil

"Esta explanação é sobre a visão de quem é o Orixá Odé como é chamado no Batuque do RS na própria África, sem as influências da cultura brasileira, católica, indígena no seu ritual"

            Na áfrica toda região possui seu Odé (caçador) particular, sendo este Odé o responsável por garantir a prosperidade, representando a habilidade do homem de caçar e coletar os alimentos para seu povo protege quem precisa caçar, pois a floresta é um local de perigos, com animais selvagens e perigos sobrenaturais, onde na áfrica moram os eguns, por isso as matas são muito respeitadas pelos Yorubás. Cada região possui seu Odé, como exemplos em Inixá têm Otin (a única caçadora mulher na áfrica), em Ijexá temos Erinlé, em Ketu temos Oxóssi (mais famoso caçador africano), em Ire temos Ogum (em áfrica ainda temos ele como caçador, pois o guerreiro e o caçador caminham lado a lado) e em Ifé temos Oluwere (primeiro caçador Yorubá, acompanhou Oduduwá em sua chegada até Ifé).
            Neste momento quando nos referirmos a Odé, interprete como caçadores, pois em áfrica ele não é uma divindade única, sendo como Esú, que tem um em cada cidade. A compreensão do termo Odé é principalmente masculina, mas também pode ser entendido como uma figura feminina, representando o instinto de sobrevivência dos homens, sendo quem traz o alimento para a mesa através de suas estratégias de caça, dono das florestas, sendo elem responsável pela fartura e o consumo consciente das riquezas alimentícias da natureza.
            Na áfrica Odé é o deus da caça e vive nas florestas junto com o espírito dos antepassados, tendo a virtude de dominar os espíritos da floresta, seu principal culto é através de Oxóssi em Ketu e Erinlé em Ilobu e Ijexá, sendo ele quem caçava os elefantes, todos Odés carregavam o Ofá (arco e flecha), a lança e o Iruquerê (um espanta moscas) usado pelos reis africanos, pendurado no saiote. Está associado ao ar livre e aos elementos da natureza, sendo solitário e individualista.
            Vejamos agora alguns resumos sobre os principais caçadores da áfrica.

Oxóssi, Osowusì
O caçador de uma flecha só

            Com certeza o mais conhecido caçador nigeriano nos dias de hoje, considerado filho de Ogum Onira com Iyá Odé Apáòka e às vezes tido como irmão de Avagã em território fon, onde o culto a Onira é inexistente.
            Ele é considerado o protetor dos caçadores, auxiliando os caçadores a terem uma boa caçada e voltar para casa com uma quantidade considerável de alimentos. Alem de viver muito tempo caçando em companhia de Ossanha com quem aprende o segredo das ervas medicinais alem de ser o único que possuía armas em seu vilarejo, onde era conhecido pelo nome de Osowusì o “Guarda Noturno”, fazendo sempre a ronda de seu vilarejo durante a noite.
            Oxossi ficou conhecido na áfrica inteira após um famoso feito seu que correu por todos os lugares rapidamente, quando Oduduwá celebrava a festa dos novos inhames com seu palácio cheio, em meio à grande festividade um enorme pássaro voou em meio ao salão da festa, era o pássaro das Iyámi òsòròngà, que elas utilizavam para realizar seus trabalhos nefastos.
O desespero tomou conta do local, chamou então Oxotogun, o caçador das vinte flechas de Ido, Oxotogí, o caçador das quarenta flechas de Moré, Oxotadotá, o caçador das cinqüenta flechas de Ilarê e também Oxotokanxoxô, o caçador de uma flecha só. Os três primeiro fracassaram na tentativa de acertar o pássaro, Oxotokanxoxô era filho único e sua mãe foi consultar um babalaô que recomendou que se fizesse uma oferenda com uma galinha sacrificada pelo peito e dizendo “quero que o peito do pássaro receba esta flecha”, no momento que Oxotokanxoxô lançou sua única flecha, com o animal enfraquecido pelo encanto de sua mãe, a flecha o atingiu profundamente, fazendo com que o pássaro caísse no chão sem vida, neste momento todos exclamaram Osowusì (pronuncia Oxówsí), que significa “Oxó (abreviatura de Oxotokanxoxô) é popular”, com o tempo este nome foi trazido para o Brasil como Oxóssi.
Hoje na áfrica o culto á Oxóssi encontra-se quase extinto, assim como no batuque do RS, embora se mantenha muito vivo na Umbanda e no candomblé, o fato da extinção deste culto na áfrica vem de quando Ketu foi saqueada e destruída pelo rei Daomé, e todos os iniciados de Oxóssi foram escravizados e mandados ao Brasil.

Oreluere, Oluwere
O mais antigo caçador Yorubá

Foi um dos dezesseis integrantes que formaram a comitiva de Oduduwá em sua chegada do Egito na cidade de Ifé, o berço da civilização Yorubá, detinha o poder e a sabedoria da caça ensinou os primeiros Yorubás a sua arte com o arco e flecha. Foi um guerreiro destemido, um medico habilidoso e um guardião da moral, das tradições e dos bons costumes das família. Todos que cometessem algum tabu eram apresentados diante de Oluwere para pagar as penitencias impostas por ele.
Não existem iniciados a ele em áfrica, ele apenas foi o patrono dos caçadores, pois o segundo caçador foi divinizado, o segundo foi Ogum. Embora Oluwere não tenha sido divinizado, nunca podemos esquecê-lo, pois ele foi chamado por todos os caçadores da áfrica de caçador primordial, no Brasil existe pouco conhecimento ou tradição oral sobre este caçador.

Erinlé, Ibualamã

Seu templo principal é em Ilobu onde é chamado de Ibualamã que significa “O poder de Erinlé”, mas em Ijexá passa o rio Erinlé, sendo a mesma divindade com seu nome pronunciado diferente de acordo com o dialeto. Em Ilobu o culto do rio e do caçador de elefantes se misturou aonde esta divindade vinha em socorro de seus habitantes, auxiliando na caça e na fartura, sendo seu local de culto onde haja um rio muito profundo.
Erinlé possui uma forte intuição de caçador, seu principal fator de culto, é para que as pessoas atraiam para si agilidade, sorte nos negócios e dinheiro, aumentando a estratégia energética das pessoas.



Logún Edé, Lógunèdè

Tido como filho de Erinlé com Oxum Epandá, é cultuado também em Ijexá, onde sabemos que ele vive seis meses em terra e outros seis meses no rio, em seis meses caça e come sua caça sendo um homem, nos outros come peixes sendo uma mulher, ele tem total bipolaridade. Pois é filho de Erinlé com quem aprendeu a arte da caça, e de Epandá de quem puxou a vaidade e a beleza.

Seu culto estende-se até Edé no estado de Osun, protege os humildes e injustiçados, também é cultuado para atrair sorte nos negócios e prosperidade financeira.


Otin, Otim
A princesa de Inixá


"Esta explanação é sobre a visão de quem é o Orixá Otim como é chamado no Batuque do RS na própria África, sem as influências da cultura brasileira, católica, indígena no seu ritual"

Otim tem muitos pontos de vista diferentes em sua liturgia no Brasil, alguns a cultuam como sendo filha de Erinlé e uma esposa de Odé, outros a cultuam como sendo a imaginação de Odé manifestada. Esta segunda possui a lenda famosa, onde Odé após ter se decepcionado amorosamente com Epandá e com Oyá, Odé entrou nas matas e pediu tanto a Olodumaré a mulher perfeita para ele, o mesmo comovido pela tristeza de Odé, concedeu a ele uma mulher que satisfizesse todas suas vontades e tivesse as atitudes perfeitas diante ele, assim nasceu Otim, uma imaginação de Odé, motivo pela qual não pega cabeça. Ainda temos alguns Babalorixás que a cultuam como qualidade de Odé sendo ela uma dualidade de Odé, que seria seis meses homem, chamado de Odé, seis meses mulher, chamada de Otim.
Mas a visão Yorubá da deusa Otim na áfrica não condiz com estas visões, em áfrica Otim é a princesa de Inixá, é a única divindade feminina que foi exilada entre os caçadores.
Otim é filha de Erinlé com Epandá, é uma caçadora que também traz a qualidade de guerreira e de cuidar das plantações, em áfrica contam que ela sempre andava até o rio buscar água para o pai, motivo que no Brasil ela é representada com um cântaro na cabeça, foi exilada de suas terras por possuir anormalidades nos seios, alguns falam que ela possuía três seios, enquanto outras regiões alegam que ela teria ate quatro seios.
Tornou-se uma grande caçadora, pois quando seu pai Erinlé era rei de Ilobu, realizava grandes festividades para o povo, mas os caçadores não queriam mais caçar para as festas, assim o grande banquete se aproximava e o alimento era pouco para todos que viriam na festividade, foi quando Otim que há tempos treinava com seu arco e flechas escondido, saiu para ajudar o pai, e voltou para o palácio com uma grande quantidade de alimentos, sendo louvada por todo o povo, e sendo divinizada pelo próprio Oxalá que se fazia presente no banquete, pois uma mulher sozinha havia caçado mais que vinte homens juntos.
Sua chegada ao Brasil foi junto com Odé que foi unificado sendo associada ao culto dele, não se pode assentar um sem assentar o outro, porem Otim não pega cabeça de ninguém, não pode ter filhos, pois para a nação Nagô Xalú ela é considerada uma orixá imanifestável, pois nunca teve filhos e ela não aprecia contato com muitas pessoas devido ao constrangimento que foi acometida em território Yorubá devido seu defeito nos seios, motivo de ter se exilado nas matas virgens, onde fica aguardando seu marido Odé voltar para a casa com a caça, pois ela não gosta de caçar, prefere a agricultura, cuida das plantações e da terra, hoje diferente de Odé ela porta uma lança e uma funda apenas para proteção pessoal, deixando a caça apenas para Odé. Algumas outras nações dão cabeças para Otim, porem alertados por antigos Babalorixás que alegam não ser apropriado, quando Otim responde no Eledá de alguém se deve imediatamente oferendar á ela, e entregar o filho para Odé, pois Otim leva o filho cedo, sendo que dificilmente um filho de Otim realmente iniciado e feito no santo passa dos 40 anos.
Ela é tida como a orixá que protege os animais, mas ao mesmo tempo ajuda os caçadores, pois ela entende que a morte de um ser é necessária para a sobrevivência da raça humana, porem não aprova a matança pura e simples, a morte de um animal deve apenas ocorrer se for para servir de alimento ou em rituais para agradar aos deuses, matar apenas por esporte ou maldade é algo totalmente revoltante para ela. Alem de ser ela que cuida e garante a sobrevivência dos animais que podem ser caçados, também auxilia na colheita dos alimentos.
Ainda temos uma lenda muito famosa na áfrica sobre Otim que conta que ela é filha de Okê, o deus da montanha, e escondia que tinha nascido com quatro seios, o rei Okê adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação. Este era um segredo de Okê e sua filha. Quando Otim cresceu, o rei aconselho-a a nunca se casar, pois um marido, por mais que a amasse, um dia se aborreceria com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo. Otim ficou muito triste, mas acatou o conselho do pai. Por muitos anos, Otim viveu em Igbajô, uma cidade vizinha, onde trabalhava no mercado.
Um dia, um caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Otim, que insistiu em casar-se com ela. Otim recusou seu pedido por diversas vezes, mas, diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca deveria mencionar seus quatro seios a ninguém. O caçador concordou, e impôs também sua condição: Otim jamais deveria por mel de abelhas na comida dele, porque isso era seu tabu, seu ewó (proibição), pois um dia ele teria entrado nas matas com seu filho lhe ensinando a caçar, e sentaram embaixo de uma arvore para descansar. Logo pousou um pássaro e Odé teria atirado acertando o pássaro e também uma colméia de abelhas, que caíram sobre a cabeça de seu filho, que sem defesa foi picado diversas vezes, Odé vendo o sofrimento do filho correu acudi-lo, sendo também picado muitas vezes, conseguiram fugir, mas seu filho estava desmaiado no chão com sua vida se esvaindo, vendo o sofrimento de Odé, Xapanã desceu a terra e corou seu filho e depois curou Odé, que disse a Xapanã, “senhor dos aflitos, ponho meu reino a seus pés e também toda minha caça, que de hoje em diante sempre comeremos juntos”, (abrindo um adendo, sempre que oferendamos Odé, antes devemos oferendar Xapanã, ou Odé não aceita a oferenda), assim Odé e seu filho seguiram seus caminhos sobre o juramento de que nunca mais iriam comer mel, pois faria com que se lembrassem de todo o sofrimento pelo qual haviam passado.
 E assim respeitando o ewó de Odé, por muitos anos, Otim viveu feliz com o marido. Mas como era a esposa favorita, as outras esposas sentiram-se muito enciumadas. Um dia, reuniram-se e tramaram contra Otim. Era o dia de Otim cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador.
Quando Otin deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na comida. Quando o caçador chegou a casa e sentou-se para comer, percebeu imediatamente o sabor do ingrediente proibido. Furioso, bateu em Otim e lhe disse as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios, sua filha de uma vaca, como ousaste a quebrar meu tabu?” A novidade espalhou-se pela cidade como fogo.
Otim, a mulher de quatro seios, era ridicularizada por todos. Otim fugiu de casa e deixou a cidade do marido Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai. O velho rei a confortou, mas ele sabia que a noticia chegaria também a sua cidade. Em desespero, Otim fugiu para a floresta. Ao correr, tropeçou e caiu. Nesse momento, Otim transformou-se num rio, e o rio correu para o mar. Seu pai, que a seguia, viu que havia perdido a filha.
Lá ia o rio fugindo para o mar. Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado, atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo o caminho do rio Otim para o mar. Mas Otim contornou a montanha e seguiu seu curso. Okê (Orixá), a montanha, e Otim, o rio, são cultuados até hoje em Otã. Odé (Oxossi), o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.

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